Hei! Psiu... Você aí.

Até algum tempo a coisa mais moderna em termos de recepção de sinal de televisão era a antena parabólica, que surgiu como o fim dos problemas para todos aqueles que tinham em suas televisões os famosos fantasmas, aquelas imagens duplicadas devido a sei lá o que rebatia em prédios muito altos. Isto para não falar da não recepção do sinal de TV por motivos vários. Por isso que a gente se aventura nessas modernices para poder ver aquele jogo de futebol, ou no tempo em que foi instalada uma lá em casa, ver o Ayrton Senna colocando os gringos pra comer poeira. Mas, como tudo para botafoguense é complicado, a coisa da parabólica não começou muito bem. Primeiro que ela foi ganha num bingo de quermesse. Uma não, mas duas, com instalação grátis e o escambau. O problema foi o tal do escambau.

Pra começo de conversa, os caras foram lá em casa sete vezes. Isso mesmo, sete vezes para fazer a infame parabólica funcionar. A cada uma delas, uma coisa ficava a desejar. Numa delas, até que a imagem aparecesse, conseguiram fazer com que o vídeo cassete só passasse os filmes em preto e branco. Ficaram todos bobocas por terem conseguido fazer a imagem aparecer. Só que eu disse: “Tá tudo em preto e branco”. E dana de mexer nos controles pra fazer a cor aparecer. Nadica de nada. Na semana seguinte, a imagem apareceu colorida e quase soltaram fogos. Eu, já ressabiado, disse que o treco ia dar zebra assim que eles fossem embora. Dito e feito. No domingo, já que a cor apareceu num sábado, tinha corrida de Fórmula 1 e o Senna lutava contra o inimigo público número 1 de então, aquele gnomo francês, o Alain Prost, que estava na Ferrari. Meu irmão estava lá em casa. Na hora da corrida... Cadê a imagem? Sumiu! Uns tapas daqui, uns PQP dali, até que eu falei para o meu irmão: “Belo, vou comprar um trezoitão e detonar a arrombada da antena!”. Milagrosamente a imagem apareceu, só que as cores eram umas séries de rabiscos. Liguei para os caras na segunda-feira e perguntei quanto eles queriam pra levar tudo de volta. Na mesmo dia foram lá e acho que fizeram umas gambiarras para o treco funcionar.

Numa bela madrugada, eu estava assistindo a um filme sozinho na sala e todo refestelado na poltrona. Apenas a luz vinda da tela de TV iluminando o ambiente. Resolvi acender um cigarro e... Zzzzzzzzuuuuuuuuummmmmmmm... Apagou tudo. Pensei comigo mesmo: “Acabou a luz”. Só que o vídeo cassete continuou com o relógio aceso e sem piscar. Logo, não tinha acabado a luz. E, novamante, pensei...”A arrombada da antena...”. Mesmo assim resolvi acender o cigarro. Quando o isqueiro seria acionado, eu ouço... “Hei! Psiu... Você aí”. Com a mão segurando o isqueiro parado no ar e o cigarro na boca, eu tinha me dado conta que aquela voz não pertencia à minha casa. Tudo isso num átimo de segundo e comecei...”Ave Maria, cheia de graças” mentalmente. Quando estava no meio da Ave Maria, novamente... “Hei! Psiu... Você aí”. Engatei um “Pai Nosso que estais no céu...”, congelado como se estivesse numa geleira. Os olhos fixos no nada e os segundos se arrastando como uma eternidade...

De repente, no meio da tela da TV surge um pontinho de luz, e eu disse mentalmente pra mim mesmo: “F*.*deu, é o Poltersgeit...”. O pontinho de luz e eu já no “Creio em Deus Pai Todo Poderoso...”. O cigarro na boca, a mão parada no ar, o polegar colado ao isqueiro pronto pra riscá-lo e o tempo parecia ter parado. Suava frio e já não sabia mais que reza fazer... E a tela se abre.

Aparece um panaca segurando um candeeiro e dizendo: “Hei” Psiu... Você aí é assinante da NET?”. Xinguei toda a árvore genealógica do proprietário da tal prestadora de serviços de TV a cabo até o primeiro desgraçado que teve a idéia de, quando os anúncios são para a sua cidade, estes não são mostrados e a tela da TV escurece. Só se captava anúncio nacional e o tal “Hei! Psiu... Você aí” era um anúncio!